sexta-feira, 2 de março de 2012

Por uma música real


Na última edição do Grammy no mês passado, Dave Grohl, líder do Foo Fighters, gerou polêmica com o discurso de agradecimento a um dos cinco prêmios dados a sua banda. Em resumo, o discurso foi marcado pela defesa do ‘elemento humano’ no ato de produzir música, onde o que realmente importa, para ele, não se passa em um computador, mas no coração e mente do artista.

Muitos interpretaram o posicionamento de Grohl como uma crítica à música pop ‘super-produzida’ e ‘computadorizada’ de hoje. De fato, o discurso dá margem a essa interpretação, basta lembrar que a maioria dos artistas presentes na plateia da premiação fazem esse tipo de música. Apesar disso, a meu ver, o vocalista do Foo Fighters não quis opor tecnologia ao fator humano na criação de músicas, mas toca numa questão importante: há limite para utilização da tecnologia na produção musical?

É óbvio que o desenvolvimento tecnológico sempre fora aliado dos grandes artistas, das boas músicas, dos ótimos discos e shows, o aparato técnico só tende a favorecer o talento. Impostores sempre existiram e continuarão a existir, devemos considerar que música é uma forma de entretenimento organizada pela indústria fonográfica, que usufrui da tecnologia em larga escala para fazer dinheiro através da comercialização da música aliada à diversão mais do que à qualidade.

De forma sincera, Dave Grohl apenas nos faz lembrar com seu discurso que a experiência musical será sempre melhor, para o público e para o artista, quando for real, explorando todas as características possíveis ao ser humano.

Publicado no caderno 'Na Mira' do Jornal 'O Estado do Maranhão' no dia 02.03.2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O que vem pela frente

Rodrigo Amarante - o que esperar do seu disco solo em 2012?
Ano novo. 2011 já ali no retrovisor. É hora de especularmos sobre o que de interessante vai acontecer na música brasileira neste 2012 que caminha a passos largos.

Pois bem.

Não é segredo pra ninguém (muito pelo contrário) que o chamado sertanejo universitário, cujos representantes maiores hoje em dia são Paula Fernandes e Michel Teló, e que outro dia mesmo eram Victor e Léo e Luan Santana, é a música pop brasileira por excelência. Tá, pode-se discutir isso pesando uma coisa ou outra. Mas não dá pra discutir que é o sertanejo universitário que ainda garante os bons negócios feitos pelas grandes gravadoras no mercado fonográfico brasileiro. Sabendo disso, pra tristeza de uns e alegria de muitos - como disse num texto passado -, não será neste ano que a febre sertaneja irá passar. Certamente, teremos mais um grande hit de Teló, ou algum novo nome surgindo com mais uma música chiclete estourada nas rádios do país. Enfim.

Do outro lado, na música dita independente (entenda-se, com liberdade artística, mas sem grandes somas de dinheiro em investimento e retorno), há esperança de uma produção mais diversificada, ainda que isso não seja garantia de qualidade. Bons discos são esperados para o primeiro semestre, ou pelo menos boas novidades de diferentes partes do Brasil. As apostas vão de Gaby Amarantos, exportadora do tecnobrega, ritmo paraense já conhecido por nós aqui no Maranhão, mas com pouca visibilidade fora do Norte, a Rodrigo Amarante, que ainda não lançou disco em carreira solo depois do recesso dos Los Hermanos, banda da qual é vocalista e compositor.

Agora é esperar para ver que bons, ou não tão bons, ventos irá trazer 2012 para a música brasileira.

Publicado no caderno 'Na Mira' do Jornal 'O Estado do Maranhão' no dia 10.02.2012


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A volta dos que não foram


Quando em 2007, após a turnê do seu último disco, o Los Hermanos anunciou que entraria em recesso por tempo indeterminado, muito se especulou sobre se seria este o fim ou não da banda. Até hoje, nem jornalistas, nem o público e nem mesmo os próprios integrantes sabem dizer se a banda acabou ou não.

Los Hermanos tem uma das discografias mais bem sucedidas da nossa música. Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo, líderes do grupo, se consolidaram como grandes expoentes da geração de compositores a que pertencem, foram gravados e regravados por vários artistas brasileiros. Enfim, a banda possui um currículo invejável, apesar de muitas vezes serem alvo de críticas por parte do público e da mídia especializada no país.

O fato é que desde o recesso, nenhum material novo do grupo foi lançado; apesar de, paralelemente, todos os integrantes possuírem algum projeto relacionado à música, quando reunidos sob o nome Los Hermanos não há esperança de novos discos - isso denotaria o seu fim, já que é o processo de criação que define o artista. O que vem ocorrendo, e aí denotando o seu ‘não-fim’, são apresentações especiais em festivais.

Em 2012, a banda completa 15 anos, e para comemorar a data, será feita uma turnê por várias cidades do Brasil. Os ingressos começaram a ser vendidos nesta semana, e em algumas cidades eles foram esgotados em menos de 12 horas.

Pelo que se vê, o Los Hermanos continua sendo uma das bandas brasileiras mais adoradas de todos os tempos. Resta saber se essa adoração resiste ao futuro indefinido do grupo, sem material novo por vir e sobrevivendo de shows esporádicos.


Publicado no caderno 'Na Mira' do Jornal 'O Estado do Maranhão' no dia 20.01.2012